Coimbra, no antigamente, era ponto de paragem. Gostava de ver o «basófias», mirava do seu jardim o Mosteiro de Santa Clara.
Deambulava por ali, percorrendo aquelas ruas com história, subia a escadaria até à Universidade, ia até ao Penedo da Saudade ler a poesia, mirar a cidade.
"Escuta Penedo,
Ouve baixinho,
Não tenhas medo
Não estás sozinho
E quando do além
Te mirarmos
Não chores por nós,
Que não estás abandonado!
Acena-nos, diz-nos adeus
Que havemos de a ti voltar" (1)
Demandava até aos Olivais, visitava a sua Igreja. Entrava em casario com cheiro a bafio. Amontoado de móveis de diversas épocas davam um aspeto tétrico de um passado misturado com o presente ou talvez com coisa nenhuma. Ah e a Briosa, esteio de jogadores/estudantes.
"Pergunta o jornalista: - E se a Académica ia jogar fora, também ias? – É claro. – E se havia porrada no campo? – Considerava uma obrigação, um dever, quase um autêntico juramento, uma autêntica profissão de fé defender a chamada Briosa. E, quando o entrevistador lhe pergunta: – Mas o que te marcou em Coimbra? - responde o mesmo que eu e muitos outros teríamos respondido: – Essa atmosfera romântica e irreverente ao mesmo tempo." (2)
Era a cidade dos estudantes e eu sentia que naquelas noites de canto às tricanas, estaria ali cantando «Aquela moça da Aldeia» para uma janela entreaberta ou, talvez, o «Solitário» para a lua.
“Perguntas-me o que é morrer,
Meu amor, minha alegria,
Morrer é passar um dia
Todo inteiro sem te ver!” (3)
Aquela cidade mística que, aos poucos, foi deixando de ser.
“Do Choupal até à lapa
Foi Coimbra os meus amores
A sombra da minha capa
Deu no chão, abriu em flores” (4)
Agora é uma cidade cosmopolita. Gente apressada e, eu, sou mais um rosto, entre tantos outros rostos sem rosto.
(1) – F.A.C. Veloso
(2) – in José Afonso “Livra-te do Medo” de José A. Salvador
(3) – “Solitário” de Horácio Menano
(4) – “Saudades de Coimbra” de Afonso de Sousa
fotos tiradas em 2008
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