A internet é uma boa forma de passar o tempo mas não é a única forma de passar a vida

6.12.05

Do Outro Lado do Espelho

Noite de Natal, noite de luz,
Risos ecoam na noite escura,
Comemora-se o nascimento de Jesus,
Festa que há séculos perdura.

Em cima da mesa estão
Doces, castanhas e nozes,
Rabanadas de vinho e pão.
Esquecem-se guerras atrozes.

Cá fora, o vento passa uivando,
Neve sobre a terra, caía,
Pobre rapaz tiritando,
Nas peripécias do tempo caminha.

Ao longe, um senhor seguia,
Correndo sobre o agreste chão,
Com a sua mão magra estendida,
Falou-lhe assim ao coração:

“Meu senhor, tenha pena de mim,
Dum rapaz pobre que sou,
A minha mãe tem doença ruim,
Meu pai partiu, não mais voltou.”

Mas o grande senhor,
Que dentro de luvas, as mãos aquecia,
Seguiu sem escutar a dor,
E nem um olhar para o rapaz volvia.

Quedou-se a mão que pedia,
E na sua mãe pensava,
Pobre, doente, tremia,
Que na barraca, o esperava.

Com a mãozinha suja e fria,
Lágrimas de dor foi a enxugar,
Por não dar à sua mãezinha,
O pão que estava a faltar.

E o rapaz num canto da rua,
Perdido na imensidão do mundo,
Banhado pela luz da Lua,
Caiu num sono profundo.

Um anjo que por ali passava,
Olhando-o com ternura sincera,
Levou-o para junto da mãe amada,
Que outro anjo da terra trouxera.

3.12.05

Um sol diferente!...

Intróito:

 Hoje é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Esta semana um invisual morre ao cair na linha do comboio por falta de algo que pudesse "dizer" ao invisual que a plataforma acabava ali e que para lá era a morte. Os diversos governos prometem e não cumprem. Os nossos deficientes continuam a via sacra, pedindo a quem de direito que olhem para eles e não por eles. Eles, os deficientes, sabem que neste mundo cruel, a deficiência não está na sua deficiência, a deficiência está na cabeça de quem nos governa, o maior cego não é aquele que não vê, é aquele que não quer ver.

 Este texto foi repescado, é a minha homenagem àqueles deficientes que comigo trabalham. Para eles toda a sorte do mundo na pouca sorte que tiveram em terem nascido ou ficado assim.

  Sentado, ia bebericando o meu café. Ouço uma algazarra e, de repente, surgem perante os meus olhos uma dezena de jovens.

  - Bom dia – disse eu – mais um dia de trabalho?!
  - É verdade – respondiam eles conforme se iam confrontando comigo e, como hoje é Segunda, uma boa semana para si.
  - Obrigado, também para vocês.

  Lá me iam cumprimentando e dando um aperto de mão, os mais afoitos, enquanto outros acenavam. Olhei para eles, homens e mulheres feitos e, imaginei como deveria ter sido a meninice. Cheia de dificuldades na adaptação a um mundo só deles, onde o futuro é incerto mas o presente uma realidade. Vão trabalhando, dando o melhor de si em tarefas que se adaptaram à sua forma de ser e não eles que se adaptaram às tarefas. São jovens deficientes.

  Quando o ovo da vida se abriu, como barqueiro que sai do seu barco, o sol que brilhou para eles afinal, não era igual,... ao brilho de outros sóis.


29.11.05

Animais de estimação!...


  Conhecem o meu Bobby? É um cão moderno, gosta de andar na moda e desde que viu a Romana na TV no "Big Brother dos famosos" não parou de latir enquanto não lhe pusesse todos aqueles "piercings". Não perdeu um único episódio... aquilo é que era paixão! Ainda bem que ela saiu pouco tempo depois senão teria que colocar mais alguns, nuns sítios que nem sei se vos conte se vos diga.

  Só tem um mau vício... fuma!!! E eu que estou farto de o avisar dos riscos que corre mas ele não quer saber. Até mandou-me comprar aquelas carteiritas para esconder o slogan «O tabaco mata»! Enfim... manias de cão!

  E nem imaginam o quanto é traumatizado!!! Fã nº 1 da Romana, quando dizem que ela casa/descasa o pobre bicho fica passado da cabeça! Pensa sempre que chegou a vez dele. Já não tem cura.

  Se o levar ao psicólogo canino tenho a impressão que quando o Bobby sair de lá, o psicólogo tem argolas em tudo que é sítio!

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  Nada tenho contra o facto de as pessoas terem animais de estimação. É salutar quando existem crianças ou para fazerem companhia a pessoas solitárias. Sou é contra o facto de fazerem dele mais um elemento de família tratando o animal, que foi concebido para estar no chão, como um ser humano, andar com ele ao colo e pior disso tudo é “beijar” esse animal como se de um filho tratasse. É aberrante, é contranatura, e já não basta as passagens de moda com canídeos a tentarem retirar de cima das costas algo que não faz parte da sua condição de animal e os puxões na coleira que o dono(a) faz para que ele se porte bem na “passarelle” para satisfazer o ego de quem faz de um animal o poço das suas vaidades, para ainda ver-mos os cãezinhos tratados que nem um ser humano.

  As doenças transmitidas pelos animais podem trazer graves problemas à saúde do Homem, como a Toxocarose, que são parasitas intestinais (como as lombrigas no homem), e pode provocar problemas respiratórios, aumento do fígado e alterações oculares que podem levar, em casos extremos, à cegueira, a Toxoplasmose, que pode provocar nas mulheres grávidas abortos e malformações no feto, a Equinococose-hidatidose que provoca quistos e pode ser fatal, a Dermatofitose a famosa “tinha” que tantos problemas cutâneos provoca, etc..

  O facto de escrever sobre esta matéria é porque vi umas imagens de uma criança com a Equinococose, doença que pode ser transmissível pela saliva do cão, que me fizeram reflectir pelo facto de as pessoas fazerem de um animal, que faz a sua limpeza corporal com a língua entre ela a limpeza da zona anal que contém ovos microscópicos das fezes, um ser humano e que numa simples lambidela ou num beijo pode o Homem provocar a sua própria morte.

  Se quando os nossos filhos são pequenos não gostamos que sejam o centro beijoqueiro de toda a gente que o tenta fazer, e não vale a pena escamotear essa nossa faceta, porque não tratar os animais com amizade, com carinho mas nunca esquecendo que ele não passa afinal de um animal e quando for dar um beijo no seu cão… pense duas vezes!


22.11.05

A Escolha!...


  Sendo um autodidacta, sempre que tento fazer algo de novo, que não esteja dentro dos meus conhecimentos, lá vou eu pesquisar aqui e ali e, pouco a pouco, vou dando corpo àquilo que pretendo. Mais uma vez assim aconteceu com o «Sons de Estrelas», nova rubrica que apresento do teu lado esquerdo do écran.

  Nessa procura fui dar com um site muito engraçado que me fez sorrir e ao mesmo tempo pensar como afinal é fácil aumentar as visitas ao nosso blog. É só fazer-se desgraçadinho.

1ª Dica:

  1) Seja depressivo. Veja sempre o lado ruim das coisas. Sempre que possível, deixe bem claro o quão solitário é... mostre ao mundo quanto toda essa mediocridade a sua volta o deprime. Uma boa dica para o blogueiro deprimido é passar alguns períodos sem colocar nenhuma mensagem... isso gera certa apreensão mórbida no seu público leitor.

  Os meus temas por vezes têm este lado da solidão, não para aumentar as visitas mas sim como estados de alma pois os mesmos já foram escritos há muito tempo num outro local. Agora, perante esta dica, vou ser useiro e vezeiro neste aspecto, quase até ao limite e, assim, não faltarão as palavras de consolo, uma preocupação permanente pelo meu estado de saúde e “voilá” o meu blog terá mais comentários do que possa imaginar pois toda a gente gosta de consolar e ser consolado. Isto é como nas doenças, se digo que me dói um joelho logo alguém dirá que para além do joelho também lhe dói o tornozelo e a omoplata. Não há povo mais doente que o nosso, cada um de nós está sempre bem pior que o outro, somos um país depressivo.

2ª Dica:

  2) Seja neurótico. Ser neurótico é chique. Pessoas não neuróticas tendem a ser obesas, lentas e passivas. Já os neuróticos reagem com maior intensidade às adversidades. Mesmo que não sejam exactamente adversidades. Para mostrar-se um blogueiro neurótico fervoroso, deixe bem claro o quanto as pequenas coisas o irritam. O trânsito… os funcionários públicos… os empregados do Mac Donalds...

  Aqui é que a porca torce o rabo para mim. É que não tenho muito feitio para criticar seja quem for mas sabe-se lá com um pequeno esforço sou capaz de lá ir e, sendo assim em vez de 8900 visitas (2000 são minhas que sou narcisista) e de meia dúzia de comentários passarei a ter 6900 comentários (não se esqueçam que 2000 visitas são minhas e eu não vou comentar o que faço, não é? Ou talvez o faça… se sou neurótico!). Até vou chorar ao sentir o prazer que as pessoas têm em comentar a minha neurose.

3ª Dica:

  3) Seja crítico. Sim... critique tudo! Desde o processo de globalização até a peça de teatro infantil da filha da enteada da sua vizinha. Para poder posicionar-se perfeitamente como um blogueiro crítico de primeira é importante saber que existem dois tipos básicos... os que criam... e os que criticam. Caso você não se encaixe no primeiro caso. Não vacile. Caia de cabeça no segundo.

  Se cair de cabeça é contra quem mal nos governa, pois já Júlio César dizia que havia um povo na Hispânia que não governa nem se deixa governar, ou seja é um país à deriva, tipo «Jangada de Pedra» de Saramago. (e esta crítica, hem!...

4ª Dica:

  4) Seja sensível. Não adianta ser um intelectual sem coração. Mostre que você tem sentimentos. Você é um ser humano... você pensa... e justamente por pensar... você chora. Chora pelos corais do Pacífico. Chora pelo o que a sociedade tornou o Castelo Branco. Chora pelo amor não correspondido à vizinha do terceiro esquerdo. Chore apenas por coisas irreparáveis, caso contrário sua sensibilidade terá sido em vão.

  Gostei desta dica. Toda a gente chora e porque não eu? Se algum tema me deixar com a lágrima no canto do olho direi que gastei um rolo de papel higiénico para limpar as lágrimas que corriam em caudal pelas minhas faces. Logo não faltarão as palavras de consolo e assim os meus comentários subirão em flecha tal como um dia subirão os aviões no Aeroporto da Ota. Um país pobre com barriga de rico, somos o riso da Europa.

 Depois de ler tudo o que escrevi, verifico que infelizmente não tenho feitio para escrever aquilo que não sinto. Tenho que me render à evidência e ficarei satisfeito em saber que aquilo que escrevo tem pelo menos um leitor… tu. Obrigado!


P.S. Dicas brasileiras adaptadas por mim à realidade portuguesa.


10.11.05

O Lírico Cantor!...





  Um dia destes fui para a varanda e deu-me uma vontade enorme de cantar uma ária. Como não sabia nenhuma resolvi cantar o "Ser benfiquista". Afinei a voz e como um Carusso para os mais antigos, ou como Carreras para os actuais, soltei-a e, como um verdadeiro barítono, comecei a gritar:

Sou do Benfica
E isso me envaidece


Ao ouvir a minha voz a cantar com tamanha emoção o hino do meu clube, até os pelos do peito se me eriçaram. Os copos de cristal, a cada trinado, tilintavam, mas decerto é cristal falso porque se fosse verdadeiro partiriam tal a força e a pujança do meu “vibrato”. Um gato miava, um cão uivava talvez confundidos, pois devem ter ficado na dúvida, se aquilo que ouviam eram miados ou latidos. Mas eu não liguei e continuei a cantar a plenos pulmões.

Ser Benfiquista
é ter na alma a chama imensa…


O meu vizinho veio à janela ver o que se passava, se, por acaso, tinha sido alguém atropelado mas, quando me viu de tronco nu, com os pelos eriçados, deu-me um sorriso amarelo, mas o que se podia esperar de um verde… não compreendem o valor artístico da voz de um benfiquista.

Por baixo da minha varanda, a vizinhança juntou-se, só ouvia uns zunzuns, deveriam ser elogios mas eu, com a modéstia que me tarimba, não lhes prestei atenção. São assim os grandes artistas.

Uma carrinha de hortaliça pára nas imediações. Logo o pessoal se deslocou a ela em grande correria e eu, inchado que nem um peru, cantava a minha última estrofe:

… que nos campos a vibrar
são papoilas saltitanteeeeeeeees.


Antes que as palmas e os pedidos de bis se fizessem ouvir, fechei a porta e retirei-me para os meus aposentos. Os meus olhos lacrimejavam tal o orgulho que sentia de mim. Nessa noite dormi em paz e, no dia seguinte, vi o quanto a vizinhança tinha gostado. A minha varanda estava pintada de vermelho dos tomates, a fruta e as alfaces espalhavam-se,... durante uma semana não necessito de ir às compras."

  Agora vou começar a treinar mas desta vez uma ária a sério, talvez a «March Of the Toreadores», assim, quando me mandarem alguma coisa, eu, como um verdadeiro toureiro, só direi… «OLÉ»!

2.11.05

Sou Citadino!...


 Será que o facto de se ser citadino é mau? Será que ao compararmos a vida da cidade e a da aldeia perdida no monte é como se uns vivessem, os da aldeia, no paraíso e os outros, os citadinos, no inferno? O trânsito caótico, o stress do dia-a-dia, a televisão, o computador, pode-se comparar à vida sem horas, o levantar ao nascer do sol e o deitar quando ele se põe, sem barulhos a não ser o chilrear da passarada, do mugidos dos bovinos, o balido das ovelhas pela encosta, e o silêncio da noite cortado aqui e ali com o piar de uma coruja?

 Será que o viver numa cidade onde as pessoas mal se conhecem, compara-se ao bom dia que todos os dias na aldeia dão uns aos outros e onde cada um sabe a vida toda do(a) vizinho(a) do lado?

 Será que é esse lado que faz com que todos os dias nos debrucemos sobre o teclado para colocar uma mensagem, um comentário, trocar um mail com pessoas que nunca as vimos e nem sabemos quem elas são e como são e, muitas vezes, escrevem aqui aquilo que sabem que as pessoas gostam de ler e não o que tem a haver com o que ela é no seu dia-a-dia, criando uma imagem ilusória de si nos outros?

 Sou citadino, gosto da cidade. Gosto do bulício, das expressões diárias, de me sentar ou passar no Martinho da Arcada, na Brasileira e saber que ali esteve Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. Sou citadino, porque nasci e vivi sempre em cidades. Os eléctricos, os “machimbombos”, o metro, foram uma constante na minha vida.

 Se assim é, serei “Pobre”? Então vamos ler este texto e perguntar se porventura a pessoa que o escreveu e canta loas à vida da aldeia se lá vivesse e não tivesse um computador como é que faria chegar esta mensagem até nós? Talvez com sinais de fumo…

Ser Pobre

 Um pai, bem de vida, querendo que seu filho soubesse o que é ser pobre, o levou para passar uns dias com uma família de camponeses.

O menino passou 3 dias e 3 noites vivendo no campo.

No carro, voltando para a cidade, o pai perguntou:

-Como foi sua experiência?

-Boa, responde o filho, com o olhar perdido à distância.

-E o que você aprendeu? Insistiu o pai.

O filho respondeu:

-Que nós temos um cachorro e eles tem quatro

-Que nós temos uma piscina com água tratada, que chega até a metade do nosso quintal. Eles tem um rio sem fim, de água cristalina, onde tem peixinhos e outras belezas.

-Que nós importamos lustres do Oriente para iluminar nosso jardim, enquanto eles tem as estrelas e a lua para iluminá-los.

-Nosso quintal chega até o muro. O deles chega até o horizonte.

-Nós compramos nossa comida, eles cozinham.

-Nós ouvimos CD?s... Eles ouvem uma perpétua sinfonia de pássaros, periquitos, sapos, grilos e outros animaizinhos...tudo isso às vezes acompanhado pelo sonoro canto de um vizinho que trabalha sua terra.

-Nós usamos microondas. Tudo o que eles comem tem o glorioso sabor do fogão à lenha.

-Para nos protegermos vivemos rodeados por um muro, com alarmes...Ele vivem com suas portas abertas, protegidos pela amizade de seus vizinhos.

-Nós vivemos conectados ao celular, ao computador, à televisão. Eles estão "conectados" à vida, ao céu, ao sol, à água, ao verde do campo, aos animais, às suas sombras, à sua família.

O pai ficou impressionado com a profundidade de seu filho e então o filho terminou:

- Obrigado, pai, por ter me ensinado o quanto somos pobres!


 Todos os locais têm a sua beleza e não é por se ser da aldeia ou da cidade que se é mais “rico” que o outro, essa é a minha opinião mas,... eu sou citadino!…


25.10.05

Eram pior que inimigos….

  Há palavras que, sem querer, se colam a nós para toda a vida. Mais cedo ou mais tarde elas assomem à nossa consciência como uma lapa agarrada a um rochedo e, por mais que o queiramos, não nos livramos dela. Pode ser uma quadra, um verso ou uma simples citação.

«Eram pior que inimigos, eram irmãos.»

  Esta frase de Pitigrilli (pseudónimo de Dino Segre), ocorre-me quando verifico o quanto de veracidade existe nela, quando se sente o ódio que passa a existir entre irmãos por causa de uma partilha, por causa de um nada que pelos vistos para alguns é tudo. Os bens terrenos ninguém os leva, mas o amor de um irmão esse é perene.

«Eram pior que inimigos, eram irmãos.»

  Num texto que li, uma mãe dizia para os seus filhos: - «Quando vocês eram solteiros todos se davam bem, agora casados dão-se todos mal».

  Uma mulher, ou um homem, pode ocupar parte do nosso coração mas não substitui aquilo que é de mais sagrado, a voz do sangue. O sangue que corre nas veias daqueles que durante anos foram os nossos companheiros de brincadeiras, o ombro amigo, aquele que na hora que mais necessitámos diz: - «Estou aqui meu irmão, conta comigo».

  Um dia um meu irmão disse-me: - «Os meus amigos são os meus irmãos». Muitos anos são passados e essa frase ficou dentro de mim e é isso sempre que espero para que a frase «Eram pior que inimigos, eram irmãos» nunca seja uma realidade.

  Que lições nos poderá dar a vida para que agora, neste momento, alguém pegue no telefone, ligue para o irmão desavindo e diga: «Obrigado meu irmão por existires!»

17.10.05

... E a Terra move-se!

 Com a descoberta do telescópio, Galileu observou as crateras da Lua, as manchas solares, as fases de Vénus e descobriu quatro satélites de Júpiter. Foram as suas observações astronómicas que o levaram à demonstração da teoria de Copérnico que afirmava que a Terra girava em torno do Sol.

 Em 1632, Galileu apresentou aquela que se tornou a sua obra mais famosa, o Diálogo sobre os dois sistemas do mundo, onde defendia a teoria do heliocentrismo.

Tribunal da Inquisição – 1633


 ... Sendo que tu Galileu, filho de Vincenzo Galilei, florentino, da idade de 70 anos, foste denunciado em 1615, neste Santo Ofício, por teres como verdadeira a falsa doutrina, ensinada por alguns, de que o Sol é o centro do mundo e está imóvel, e que a terra se move...

 ... que, às objecções que então te foram feitas, tiradas das Sagradas Escrituras, respondeste glosando as ditas Escrituras à tua maneira...

 ... invocado portanto o Santíssimo Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua gloriosíssima Mãe sempre Virgem Maria...

 ... condenamos-te a cárcere formal neste Santo Ofício, a arbítrio nosso, e como penitência salutar impomos-te que, durante três anos, venhas dizer uma vez por semana os sete Salmos de penitência, reservando-nos a faculdade de moderar, mudar ou perdoar, no todo ou em parte, as citadas penas e penitências.


 Em 22 de junho de 1633, ano do Senhor – e numa quarta- feira – o Sacro Tribunal da Inquisição havia portanto decidido. A Terra – que ficasse bem claro – está imóvel; ela é o centro do universo, e a Igreja de Roma – que também isto ficasse bem claro - é o centro da Terra. E o Vaticano é o centro da Igreja. Roma locuta est, causa finita est.
Roma falou, a causa está terminada.


 ... e Galilei retracta-se

 Eu Galilei... fui julgado como veementemente suspeito de heresia, isto é de, de ter afirmado e acreditado que o Sol seja o centro do mundo e imóvel, e que a Terra não seja o centro e se mova... abjuro, maldigo e detesto os citados erros e heresias, e juro que, no futuro, não mais direi nem afirmarei, por voz ou por escrito, coisas tais pelas quais se possam ter de mim semelhantes suspeitas...

 Mas a lenda, diz que Galileu, o septuagenário, num último sobressalto de dignidade, exclamou:

«E no entanto... move-se!»


 Rodeado de amigos e discípulos, Galileu morreria a 8 de janeiro de 1642. Seus companheiros quiseram erguer um monumento em sua homenagem, mas o papa Urbano VIII vetou a proposição, alegando que ela seria um mau exemplo para os fiéis, visto que o morto "dera origem ao maior escândalo de toda a cristandade".


10.10.05

A Vida... e um sorriso!

«Se não posso voar mais alto, é porque voei até onde as minhas asas o permitiram.»


 Na nossa existência pensamos sempre que há algo que nos impede de realizar o sonho. O sonho de alcançar as estrelas quando, por força das circunstâncias, só nos resta olhar para elas.

Quantas satisfações a vida nos oferece e procuramos sempre algo que nunca acontece. Algo que nos realize ou, pensamos nós, que dê sentido à nossa vida. O que procuramos? Que caminhos trilhamos? O que é que a vida nos reserva num futuro imediato?

Será que vale a pena pensar na tal pancada que um dia pensamos que vamos receber e termos acesso à terceira visão essa que nos diz o que é que fazemos aqui? Não será mais fácil aproveitar a vida sem esperarmos mais dela do que aquilo que ela nos dá? Então o porquê de querer agarrar as estrelas no céu se as temos muitas vezes ao pé de nós e não as enxergamos?

Que tal começar bem o dia? Chegar ao local de trabalho com um sorriso do tamanho do mundo e dizer Bom-Dia! O pessoal pensará que estamos passados da cabeça pois todos os dias o nosso rosto cruzou as portas sempre com ar sisudo como se transportássemos nele todo o mal do mundo.

Dizem que somos um povo cinzento, mas cinzento é o tempo que faz hoje. Iluminemos o dia com o sol do nosso sorriso. Vamos gozar a vida, tenha um Bom-Dia!

É gozar a vida enquanto cá andamos porque depois... pode ser tarde!

4.10.05

A mais bela história de Amor

 Esta lenda, dedico-a a todos aqueles/as que, acreditando ou não numa religião, não deixam de fazer bem ao próximo. A lenda é extensa mas vale a pena.

 O Bodhisattva percorria o campo em procura daquilo que não sabia. Caminhava a passos lentos, ora perdido em pensamentos, ora interessando-se pela natureza, sumptuosamente vestida com as cores do infinitamente inteligente.
De repente, viu uma pomba, tão cansada de sulcar os ares pesados que estava prestes a cair. Num último esforço, ela conseguiu chegar junto do sábio e deixou-se cair aos seus pés.
Suplico-te, Bodhisattva – gemeu -, salva-me! Desde esta manhã que um abutre me persegue; estou esgotada e só tenho esperança em ti. Vê, lá vem o abutre... está ali!
Com efeito, um enorme pássaro negro aproximava-se do sábio, mas voava também com tanta dificuldade que fazia pena ver o seu esgotamento.
O Bodhisattva pegou na pomba, escondeu-a na túnica, e murmurou-lhe com toda a sua ternura fraterna:
- Sossega o teu coração, pombinha. Eu sou o Bodhisattva, ofereço-te a hospitalidade do meu peito e não tens nada a temer.
Foi então que o abutre pousou diante dele, as plumas em desordem e visivelmente aflito.
- Pelos deuses - disse ele, já não posso mais, depois desta terrível manhã de caça! Bodhisattva, vi-te esconder a pomba debaixo da túnica, dá-ma depressa, porque me sinto desfalecer...
- Podes estar certo que não ta darei - respondeu o sábio - porque lhe prometi que estaria em segurança, e as leis da hospitalidade não podem ser transgredidas, sob pena de castigo.
- Essa pomba não te pertence - replicou o abutre. - É minha. Quando a agarraste, estava no limite das forças e ia, como seria justo, cair em meu poder. Vamos, dá-me o que é meu!
- Impossível!
- Pensa, Bodhisattva: eu sou um abutre, é esta a minha natureza imposta pelos deuses, que também me impuseram o meu alimento. Forcei a pomba. Ela é a recompensa do meu trabalho de abutre e deves dar-ma.
- Impossível - disse ainda o sábio -, mas com a voz pouco segura. Gostaria muito de te agradar, abutre, mas não ta posso dar pelo preço que a pedes. Volta à tua caça, é o que tens de melhor a fazer!
- Voltar à caça? A tua graça é cruel, Bodhisattva! Não vês que não sou capaz de voar? Se uma raposa me encontra neste estado, estou perdido! Queres que morra à fome ou que seja devorado por um inimigo? Seja, vou morrer, mas a tua consciência sentirá o peso deste crime.
O Bodhisattva não precisou de meditar muito para compreender que o abutre tinha razão, mas a pomba também tinha razão em querer salvar a vida, e ele também tinha razão em oferecer a hospitalidade do seu peito. Como podia ele dizer à pomba que era o salário legítimo do abutre? Deveria deixar o abutre devorar a presa?
O seu coração abrasava-se de piedade, de amor e de cruel incerteza.
Sacrificar a pomba inocente? Impossível!
Sacrificar o abutre inocente? Não!
Só restava uma solução, que iluminou o Bodhisattva.
- Tens razão, abutre - disse ele - não te devo privar do teu salário. Vou portanto oferecer-te com a minha carne aquilo a que tens direito.
Por milagre, surgiram uma balança e uma faca diante do sábio, que, num prato, pousou a pomba e, no outro, um grande pedaço de carne arrancado do seu próprio corpo.
Como o fiel se inclinava para o lado da pomba, o Bodhisattva acrescentou um outro bocado da sua carne, depois mais um outro, e outro... e o fiel inclinava-se sempre para o mesmo lado, os bocados de carne humana não chegavam a pesar tanto como a frágil pomba.
Então, o Bodhisattva subiu para a balança, cujos pratos se equilibraram imediatamente com uma exactidão rigorosa.
Uma vida por outra vida!
O abutre, que tinha contemplado a cena em silêncio, bateu as asas e metamorfoseou-se.
- Eu sou o deus Indra - disse - e queria pôr-te à prova!
Caiu do céu uma chuva de ambrósia que curou o Bodhisattva, a quem o deus anunciou que voltaria a encarnar no corpo do próximo Buda.


 Estamos diante duma bela lição de amor, completa e edificante: uma vida vale outra vida. O amor só vale quando é total e se dirige tanto ao nosso irmão abutre, como à nossa irmã pomba ou ao nosso outro irmão, o grãozinho de areia.
Foi este o ensinamento iniciático do Bodhísattva.

28.9.05

A origem do Homem!...

''Os nossos ouvidos, habituados desde os primeiros anos a ouvir as suas histórias falsas, e os nossos espíritos, imbuídos desses preconceitos desde há séculos, conservam como um depósito precioso essas suposições fabulosas... de tal forma que fazem aparecer a verdade como uma extravagância e dão a lendas adulteradas a aparência da verdade''

Isto foi escrito por Sanconíaton há 4000 anos.


 Teria sido o Homem um erro da Criação? Que dizer das lendas sobre o aparecimento do Homem ao cimo da Terra? Sabemos que as lendas têm um fundo de verdade. A transmissão era feita de pais para filhos através da palavra e algo se perdeu na poeira do tempo.

 O que pensarão outros povos sobre o aparecimento do Homem? Será baseado nos mesmos aspectos bíblicos que nós? Claro que não. Cada povo com o seu uso, cada roca com o seu fuso. Então vamos ler as lendas sobre o assunto, dos povos que fazem parte do Mundo em que vivemos.

Diz a Bíblia

 Na história bíblica da criação do mundo há uma referência de que o primeiro homem, Adão, seria um andrógino, já que remover uma costela de Adão, para dessa parte criar a mulher, tem óbvia equivalência de sentido com dividir um andrógino primordial. A sugestão aparece implícita quando o texto bíblico diz: “E Deus criou o homem à sua imagem; na divina imagem ele os criou; macho e fêmea os criou” (Génesis 1:27). Se os criou “macho e fêmea” à sua imagem, seria Deus masculino ou feminino? O Midrasb Rabbah, a mais autorizada obra judaica de interpretação do Génesis, diz textualmente (em 8:1): “Quando o Sagrado, Abençoado seja Ele, criou o primeiro homem, Ele o criou andrógino”.

 Mas o que diz a lenda no Andes sobre o aparecimento do Homem na Terra?


 Na Era Terciária (há cerca de 5 milhões de anos), quando ainda não existia qualquer ser humano sobre o nosso planeta, povoado apenas por animais fantásticos, uma astronave brilhante como o ouro pousou sobre a ilha do Sol do lago Titicaca.
 Dessa astronave desceu uma mulher semelhante às mulheres actuais quanto ao corpo, dos pés até aos seios; mas tinha a cabeça em forma de cone, grandes orelhas(1) e mãos apalmadas com quatro dedos.
 O seu nome era Orejona (grandes orelhas) e vinha do planeta Vénus onde a atmosfera é mais ou menos análoga à Terra.
 As suas mão indicavam que existia água em abundância sobre o seu planeta original e que representava um papel primordial na vida dos Venusianos.
 Orejona caminhava verticalmente como nós, era dotada de inteligência e tinha, sem dúvida, a intenção de criar uma humanidade terrestre, pois teve relações com um tapir, animal rugidor, que andava a quatro patas. Ela gerou vários filhos.
 Essa prole, oriunda de um cruzamento monstruoso, nascia com dois peitos e uma inteligência diminuta, mas os órgãos reprodutores mantinham-se os do tapir-porco. A raça estava fixada.
 Um dia, terminada a sua missão, ou talvez cansada da Terra, e desejosa de voltar a Vénus, onde podia ter um marido à sua imagem, Orejona levantou de novo voo na sua astronave. Depois disso, os seus filhos procriaram, dedicando-se sobretudo ao destino de seu pai-tapir, mas na região de Titicaca uma tribo, que se mantinha fiel à memória de Orejona, desenvolveu a sua inteligência, manteve os seus ritos religiosos e foi o ponto de partida das civilizações pré-incas.
 Eis o que se encontra escrito no frontão da Porta do Sol em Tiahunaco.


 (1)Os Grandes Orelhas (ou Orejones) formavam uma casta superior na América do Sul, e emigraram até à ilha de Páscoa. As estátuas gigantes de Páscoa e de Bamiyan têm todas grandes orelhas e é curioso notar que os Budas da Índia têm igualmente a mesma particularidade.


23.9.05

Os deuses e o Homem!...

Deus e o Universo são a mesma substância
(princípio panteísta).


 Outra lenda, esta das Honduras:

 Conta a lenda que outrora chegou a este país, vinda do céu, uma mulher jovem de pele branca, de beleza indizível.
Aterrou na cidade de Cealcoquin, onde mandou construir um palácio ornamentado com estranhas figuras de homens e animais.
 No templo foi depositada uma pedra verde, que apresentava em três faces desenhos tão misteriosos como os gravados nas muralhas do palácio.
 Era uma pedra mágica e um verdadeiro talismã que dava ao reino da deusa branca o poder de vencer todos os inimigos.
 Um dia sentindo que a sua beleza se desvanecia, a deusa branca partilhou o Estado entre os filhos e mandou transportar a sua cama voadora para o terraço mais alto do palácio,
 Cedo desapareceu no céu, sob a forma dum belíssimo pássaro.


 No Peru, na Bolívia, na Colômbia, e no antigo reino dos Incas, encontram-se vestígios evidentes de máquinas espaciais, em particular no friso da Puerta del Sol, em Tiahuanaco (como referi no texto sobre Orejona). Na Índia, os deuses deslocavam-se em vimanas, máquinas voadoras movidas pelo rasa (mercúrio) e o Ramayana conta que o herói Kubera viajava habitualmente num carro voador.
Em todas as culturas, em todos os povos há referências a deuses vindos do céu. São coincidências a mais.

 E o que dizem os gregos sobre o aparecimento do Homem?

 Na tradição mais antiga não se fala da criação do homem por um deus, ele surge fruto dado à luz pela mãe Terra em igualdade com os deuses, depois de Zeus ter tomado o poder definitivamente. Habitaram a planície de Mécon, viviam em paz, eternamente jovens, não trabalhavam (isso é que era uma óptima ideia), não conheciam a doença e a morte. Enfim, o homem era divino, só que (há sempre um que nestas histórias) o homem lá pensou que era mais divino que os deuses e entrou em competição. Quem se mete com os deuses tem que pagar e lá se foi o paraíso.

 Como esta lenda era pouco crível, lá se arranjou uma outra versão. Segundo a tradição órfica, os homens teriam nascido das cinzas dos Titãs, fulminados por Zeus por este terem devorado o pequeno Dionísio. O homem nascido das cinzas dos Titãs adquire uma natureza dupla: a divina que lhes vem de Dionísio e a bestial que lhes vem dos Titãs. Refere-se aqui que bestial é de besta e não um elogio. ;)

 Mas as lendas não acabam aqui e entra em jogo Prometeu, esse sim considerado o criador do homem. Prometeu moldou o homem como uma estátua com água e argila. Atena deu-lhe o sopro da vida colocando sobre a estátua uma borboleta, a psique, que significa a alma. Zeus decidiu que os homens fossem separados dos deuses e devido a um logro com que Prometeu presenteou Zeus, beneficiando os homens, foi-lhes retirado o fogo, mas Prometeu prometeu aos homens o fogo e, se prometeu teve que cumprir, roubou o fogo a Zeus. Pagou cara a ousadia. Foi acorrentado a uma rocha do Cáucaso, uma águia (animal consagrado a Zeus) todos os dias comia-lhe o fígado de dia e este voltava a crescer-lhe à noite e no dia seguinte lá ia fígado de novo num suplício sem fim.

 Falei do homem mas não falei da mulher e aqui as mulheres que me lêem que me desculpem mas os deuses não eram lá muito vossos amigos. Não é que Zeus não satisfeito pelo castigo que aplicou a Prometeu, e pelo facto do homem ter voltado a adquirir o fogo, criou um mal sob a aparência enganadora de um bem: a mulher?!

 Zeus para os infernos... já!

 Hefesto, moldou a bela figura feminina com argila, Hermes deu-lhe a voz e as palavras mentirosas, Atena vestiu-lhe esplêndidas vestes e deu-lhe um diadema, Afrodite deu-lhe o fascínio sedutor.

Pandora foi a primeira mulher e o que aconteceu a Pandora? Pois é, levava consigo um vaso que os deuses lhe tinham dado e estava proibida de o abrir, mas ai as mulheres tão curiosas que são! Pandora destapou o vaso e de lá saíram todos os males, a doença, a morte e o sofrimento.


 Ai mulher, mulher, por tua causa é que o paraíso se foi, mas mais vale um inferno com vocês que uma vida inteira de paraíso sem mulher!

P.S. A imagem que está em cima representa outra lenda, esta contada por Darwin.

... Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti!...


8.9.05

O Desafio!...

  A grilinha como “grila da onça” que é, lançou-me um desafio e aqui está o resultado:

As 5 (+ 3) coisas que me tiram do sério...


.... e o tentarem “manobrar-me”, neste capítulo, não dou hipóteses seja a quem for.

As 5 coisas de que gosto em especial...

   

 


5 álbuns favoritos…

      

   


5 canções preferidas…










Blogs que visito diariamente…

Como não vou desafiar ninguém aqui fica esta música que dedico a quem me lançou o desafio... Grilinha!





5.9.05

Dá que pensar!...

  Os temas que aqui coloco não são mais que pedaços da minha forma de ser. Não procuro ir ao encontro de ninguém a não ser de mim mesmo. Sou o que sou.

Isto vem, pelo facto de um dia destes estar a ver imagens da catástrofe que se abateu em New Orleães. Uma cidade desaparecida, milhares de pessoas desalojadas, mortes, pilhagens, olhares de terror, imagens cruéis da força da natureza que não há homem algum que a domine.

Pouco depois deu imagens, no mesmo país, do Open dos U.S.. Ali, algumas milhares de pessoas rejubilavam ou não, com as proezas dos tenistas no torneio. A cara de aborrecido de quem foi eliminado, contrastava com a da alegria do vencedor.

Dei por mim a pensar que afinal a Terra é isto mesmo, uns morrem de fome, outros morrem de abundância. Uns preocupam-se com ninharias, outros nem têm tempo de pensar nelas, tal a violência do seu dia a dia.

 Isto recebi há pouco tempo por mail. Não procuro soluções mas que dá que pensar dá!...

Dói muito mais arrancar um cabelo a um europeu
que amputar uma perna, a frio, a um africano.

Passa mais fome um francês com três refeições por dia
que um sudanês com um rato por semana.

É muito mais doente um alemão com gripe
que um indiano com lepra.

Sofre muito mais uma americana com caspa
que uma iraquiana sem leite para os filhos.

É mais perverso cancelar o cartão de crédito a um belga
que roubar o pão da boca a um tailandês.

É muito mais grave deitar um papel para o chão na Suíça
que queimar uma floresta inteira no Brasil.

É muito mais intolerável o shador de uma muçulmana
que o drama de mil desempregados em Espanha.

É mais obscena a falta de papel higiénico num lar sueco
que a de água potável em dez aldeias do Sudão.

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda
que a de insulina nas Honduras.

É mais revoltante um português sem telemóvel
que um moçambicano sem livros para estudar.

É mais triste uma laranjeira seca num colonato hebreu
que a demolição de um lar na Palestina.

Traumatiza mais a falta de uma Barbie a uma menina inglesa
que a visão do assassínio dos pais a um menino ugandês



... e isto não são versos; isto são débitos
numa conta sem provisão do ocidente.
... Façam os possíveis por serem felizes!...


27.8.05

o Porquê?...


                                         o porquê da fome

                                         o porquê da guerra

                                         o porquê da violência

                                         o porquê da desilusão

                                         o porquê da matança

                                         o porquê da má sorte

                                         o porquê da miséria

                                         o porquê do sofrer

                                         o porquê do ódio

                                         o porquê do cloreto de sódio...



... e bastava um abraço, distribuir por todos o que a terra dá, fazer de um desconhecido um amigo e a Terra seria um...


12.8.05

Mulheres!...



     


  «Se pudéssemos viver sem elas, sem dúvida omnes ea molestia careremus; mas uma vez que os deuses decidiram que não se pode viver sem elas, nem com elas conviver racionalmente, não nos resta senão fechar os olhos e pensar no bem do Império.»

Catão

  A importância da mulher na sociedade é muito mais importante do que as considerações de Catão fazem prever. Antigamente o papel social da mulher era fundamentalmente a procriação. Os homens matavam os animais e as mulheres tomavam conta dos filhos, cozinhavam e tratavam dos afazeres da casa. Com tal perfeição o fizeram que a espécie humana se desenvolveu e se espalhou por todo o globo.

  Hoje a mulher tem um papel na sociedade diferente do passado. Sem esquecer o papel de mãe entrou nos domínios outrora dominado pelos homens e, se em algumas regiões foi bem sucedida noutras continua a ser vítima de ostracismo.

  Mas há uma faceta que nunca foi alterada através dos tempos na mulher, os cuidados a ter com a sua beleza. Seja em que sociedade humana for e em qualquer época, todas tiveram ou têm os seus padrões específicos de beleza. Com a alteração da cor do cabelo e dos olhos, do tamanho dos seios, do pescoço, como na Birmânia, dos pés (ver o tema Cinderela) e da boca, como certas tribos na Etiópia, as mulheres procuram com essa atitude tornarem-se sexualmente mais atraentes.

  O historiador romano, Plínio o Velho, aconselhava leite de burra para a pele resplandecer de juventude: as mulheres saudáveis devem banhar-se nele «até sete vezes por dia», para tratamento de sinais, a aplicação de placenta de vaca (ainda quente), ou uma mistura feita de genitais de vitela dissolvida em vinagre com enxofre. Hoje os banhos são outros e a placenta vem em pomadas, mas a finalidade é a mesma, tornar a mulher bela.

  Outro aspecto são os pêlos que, na maioria dos casos, não são atraentes para os homens e as mulheres sabem que uma pele limpa e macia pode ser o suficiente para conquistar as atenções.

  Na antiga Grécia, em 2000 a.C., as mulheres gregas arrancavam os pêlos com as mãos, ou queimavam-nos com cinzas quentes sobre a pele. O primeiro instrumento usado na depilação, o Estrigil, foi adoptado pelas mulheres romanas. As mulheres passavam no corpo uma pasta à base de vegetais, cinzas e a argila, raspando posteriormente a pele com o Estrigil.

  Os egípcios foram, por seu turno, os primeiros a utilizar o extracto de sândalo, a argila e a cera de abelhas, ingredientes que dariam origem à depilação com cera tão em voga entre nós.

Hoje, além da cera, utilizam a lâmina e o raio laser para esse fim

  Cada vez mais a beleza individual da mulher desempenha um papel fundamental na procura de parceiro, embora um rosto mais atraente não signifique melhor mãe, melhor companheira comparada com outra de rosto vulgar. Vulgares serão um dia todos os rostos que de uma forma ou de outra foram alterados e parecem terem saído todos da mesma clínica.



23.7.05

Uma Luz de Esperança!...



  Arrumo o carro nas imediações. Procuro um determinado local, onde possa entregar o que levo na bagageira. A entrada, onde o ano passado estive, está fechada. Ninguém parece saber como chegar à instituição. Quando pensava que tinha que dar meia-volta e ir-me embora lá apareceu alguém que me apontou uma nova entrada. Era um pouco ao lado do sítio onde tinha estado anteriormente.

  Por terrenos cheios de sulcos e pequenos declives lá consigo chegar ao local pretendido.

  Grupos de jovens estão ali dentro de uma cerca. Rostos fechados, lábios sem risos. Vão dando uns pontapés na bola sem grande alarido como se tudo se resumisse a nada. Olham com indiferença já habituados a estas demandas. Maldita sorte tiveram à nascença, foram atirados para a rua como nem aos animais se faz. São crianças abandonadas.

  Que uma verdadeira família os recolha no seu seio e, como vela que irradia a luz da felicidade, lhes oriente a vida rumo a bom porto.


21.7.05

Cinderela




  Eis a verdadeira história de Cinderela. Não é uma história linda, é sim um horror. O que os homens fazem às mulheres para o servirem a ele, seu amo e senhor. Não me venham cá com tradições...

  Ao longo da História, várias foram as culturas que optaram por exagerar diversas partes do corpo. Na China, era costume forçar a natureza, exagerando a pequenez do pé feminino. Os pés das mulheres eram enfaixados, um processo extremamente doloroso que começava na infância. As mães exigiam que as filhas, a partir dos sete anos, envolvessem os pés minúsculos numa ligadura especial, com 5 centímetros de largura e 3 metros de comprimento, que obrigava os dedos mais pequenos a encaracolarem-se para trás e para baixo, deixando livre apenas o dedo grande. À medida que a ligadura ia sendo apertada, a sola do pé aproximava-se cada vez mais do calcanhar. Depois de vários anos deste tratamento, o pé ficava deformado para sempre, comprimido e atrofiado, quase como um pequeno casco, Os pés cabiam então nos pequenos sapatos requintadamente bordados, apenas com alguns centímetros de comprimento, que eram confeccionados para as senhoras da alta sociedade.

  O pé pequeno semelhante a um casco, chamado Lótus Dourado, era considerado o máximo da beleza erótica pelos homens chineses. Enquanto faziam amor, eles acariciavam o Lótus Dourado, chupavam-no, mordiscavam-no e chegavam a enfiá-lo totalmente na boca, O pé tornava-se o núcleo do desejo erótico. Como as mulheres têm os pés mais pequenos que os homens, o exagero dessa diferença traduzia-se num excesso de feminilidade para a mulher. Só as camponesas é que tinham os pés achatados, ou “pés de pato”, como lhes chamavam com sarcasmo. (E não é de admirar que a história da Cinderela — cujas irmãs, muito feias, não conseguiram enfiar os pés enormes no minúsculo sapatinho — seja de origem chinesa.)

  O hábito chinês dos pés enfaixados durou quase um milénio, desde o século X até ao início do século XX, quando foi finalmente suprimido, devido à sua crueldade. O facto de ter subsistido durante tanto tempo deve-se à sua dupla importância: o pé não só era uma zona erótica, como era um símbolo de um estatuto social elevado. As mulheres que tinham os pés enfaixados não podiam executar trabalhos manuais. Ter um par de Lótus Dourados equivalia a uma vida inteira de reclusão palaciana, de inactividade forçada e de fidelidade.


Desmond Morris in «Os Sexos Humanos»

Eis a “Cinderela”, velha mas para sempre... “Cinderela”.




15.7.05

Voltar prá Ilha


 Tudo na vida tem um principio e um fim, um antes, um durante e um depois. Por mais voltas que se dê, por mais quilómetros que se ande, por mais vales, montanhas, rios, mares que se navegue, caminhos que se palmilhe é, certo e sabido, que o que nos espera é uma placa que diz… FIM.

Depois, resta-nos a lembrança, essa que nunca morre a não ser connosco, que, durante um período lato da nossa existência, nos mostrará de novo a ponte romana, o rio Gilão, os Mundos Perdidos, as marinas, as praias, as Rias, os toques, os sons, o bulício das noites quentes, as cervejas que se bebem, o peixinho grelhado, os malabaristas, as marginais, o convívio e o olhar.

Sim o olhar, esse olhar que tudo retém, que tudo memoriza, que nos dá o amor e o ódio, que nos dá essa sensação imensa da lonjura do oceano e das estrelas e, depois de tudo passado, de tudo acabado, só resta visualizar tudo isso nas gavetas da nossa memória e a convicção de que para o ano há mais, mas como eu gostaria neste momento, de novo,... Voltar prá ilha!


2005-07-15

17.6.05

Vou ali... e já venho!






A net é uma boa forma de passar o tempo mas não é a única forma de passar a vida

Arrivederci!

2005-06-17

15.6.05

Quem sou?!... Quem és?!...


 Neste momento um sorriso passa pelo meu rosto. Quantas das vezes imaginei quem e como será a pessoa que, atrás de um nick, aqui escreve uma prosa, um verso, um desabafo ou um simples bom dia. Quantas das vezes olho para quem está numa paragem, numa fila de trânsito ou num sítio qualquer de um lugar ao acaso, e me pergunto: - «Será que algum destes rostos, um dia, se cruzou com o de marius70 na escrita?»

 Um dia escrevi na areia da praia, marius70, à espera que alguém visse, de um sorriso, uma procura, um tentando descortinar quem aquilo tinha escrito, mas nenhum rosto se voltou, nenhum sorriso vislumbrei e o mar, de mansinho, apagou, nada restando a não ser eu que, com uma pena na mão, procurava na multidão outros rostos iguais.

 À noite, junto à fogueira do meu imaginário, eles vêm ter comigo. Vejo-os sem rosto, escuto as suas vozes, escuto os seus corações, damos as mãos e, lentamente, ao som dos acordes que um dia marius aprendeu, rodopiámos numa sensação ébria de que afinal, já nos conhecíamos há muito tempo.

2.6.05

A criança em mim...

 O velho hospital está em “pantanas”. Electricistas procuram esconder os fios que irão servir de suporte aos vários holofotes que iluminarão o cenário.

 A empregadita limpa mais uma vez o chão para que esteja a brilhar na altura das filmagens.

 Ouvem-se as vozes dos responsáveis para que tudo fique em conformidade com as indicações do realizador. As câmaras são colocados em pontos estratégicos.

 Verificam-se os carris por onde as máquinas deslizarão para as tomadas da cena. Uma madre saltitante, faz um virote no saiote chamando a atenção de todos pela sua desenvoltura.

 A um canto, vê-se uma mesa com vários acepipes preparados pela zezinha, cozinheira de serviço , onde se encontrava já sentado um dos actores principais.

 Num palco montado para o efeito, uma espanhola dá uns requebros de salero.



 Um aracnídeo vai descendo pela sua teia - por enquanto escapou ao olhar arguto da empregadita

 Vários figurantes deambulam ao acaso, até que se ouve a voz do realizador:


                                          - Todos aos seus lugares.

 A câmara aproxima-se da figura esguia, na cabeça, um chapéu de coco.

    

  - Olá, alguém viu o meu amigo Bucha? Se por acaso o virem, digam que estou à espera dele há já algum tempo!!! - diz o Estica exasperado.

  O chefe de cozinha, jchati agradece a ajuda da nova cozinheira, palanys que chega na altura exacta para ajudar a preparar o enorme peixe que o Bucha tinha trazido pela manhã.

  Siduxa, secretária do realizador, vem apressada, tentando naquele emaranhado de fios e máquinas encontrar o seu chefe.

  O popiun ao vê-la, vem em alvoroço dizer-lhe: - Em cena quem é de cena, fora de cena quem não é da cena. e acontece o inevitável, siduxa tropeça num dos fios e só se vêm bobines pelo ar, instala-se a confusão e o Estica sem saber como, encontra-se no chão estatelado.

 - Mas o que é isto? Algum tremor de terra?



 A criança entra no cinema. Senta-se num qualquer lugar num banco de madeira corrido. Por todo o lado ouve-se a algazarra de outras crianças que, como ele, esperam ansiosamente o início do filme, parecem bandos de pardais à solta. 15 tostões foi quanto lhe custou o bilhete e como foi tão difícil arranjá-los. Pede aqui, pede ali e ali está ele. Ouve-se o som característico do início da sessão. Lentamente vão-se apagando as luzes, abrem-se as cortinas e, no écran, aparecem as primeiras imagens do filme…


O Bucha e o Estica