A internet é uma boa forma de passar o tempo mas não é a única forma de passar a vida

14.10.19

'O Caçador'

'O Caçador' de Lars Kepler

Livro traduzido em português, tradutora Regina Valente.

O livro foi-me oferecido. Aproveitei as férias para o ir lendo. O título sugestivo 'O Caçador' de Lars Kepler (não tem nada a ver com o filme The Deer Hunter com a banda sonora extraordinária dos The Shadows (Cavatina)), fazia prever um bom livro..

Um livro traduzido terá que ser traduzido do princípio ao fim, pois se não dominarmos a língua inglesa, é um problema quando há passagens nessa língua. É o que acontece neste livro. A certa altura e tem a ver com a razão dos assassinatos que acontece no desenrolar da história, aparece esta cantiga que diz o autor, é infantil:

Ten little rabbits, all dressed in white,
tried to go to heaven on the end of kite.
Kite string got broken, down they all fell,
instead of going to heaven, they went to...


Sem tradução, sem nada. Tendo eu optado pela língua francesa na Industrial, do inglês só 'I don't smoke' o que convenhamos é muito pouco.

Por isso tive que escrever tudo isto para saber no tradutor, que cantilena era esta, o que me deu um trabalhão...

Senhores da Porto Editora, se eu soubesse inglês, comprava o livro original e não o livro 'traduzido'.

Por isso este livro leva a minha chancela de...

Ah, e já agora a tradução (não confio muito nela)

Dez coelhinhos, todos vestidos de branco,
tentou ir para o céu no fim da pipa.
A pipa quebrou, todos caíram,
em vez de ir para o céu, eles foram para ...


Bem, ainda vou no terceiro assassinato, se são dez os coelhos ainda faltam sete, como não foram para o céu, foram para o inferno.

12.9.19

Há mar e mar...

Caminhando junto ao mar, ouvem-se gritos aflitivos de uma mulher. Sentada na areia, contorcia-se com dores. Outra mulher segurava-a enquanto iam chamar o nadador salvador a fim de prestar a assistência devida.

Uma multidão logo se juntou cada um formulando a sua opinião tipo sapateiro na Praça de Veneza. Naquela altura qualquer 'sapateiro' dava palpites mas, a mulher contorcendo-se com dores, nem os ouvia. A dor era num pé.

Chegaram os rapazes e logo ouviram insultos, que tinham demorado muito tempo e que não deviam perceber nada daquilo. Com calma e sem ligarem às provocações, verificaram que a senhora tinha sido picada por um peixe-aranha. Os nadadores salvadores têm um kit para estas situações.

Sentaram a senhora numa cadeira e trataram-na. Os 'sapateiros' envolventes baixaram a cerviz e retiraram-se assobiando para o lado, como o que tinham dito aos rapazes tinha sido por outros e não por eles.

Mar encapelado. Ondas de mais de metro e meio. Uma senhora com um peso considerável, olhava para aquelas ondas como as desafiando. Tanto olhou, que nem reparou numa onda enorme que vinha a praia beijar.

Vira-se e esta apanha-a em cheio pelas costas. A 'bola' rebola e, devido ao peso, não consegue levantar-se... e o mar puxa-a para o seu interior. Sorte dela que, a pouca distância, duas jovens apercebendo-se da situação, a seguraram a tempo (mas eu já lá ia em socorro).

Bola de Berlim grita o vendedor. E hoje comi a primeira bola de Berlim desde que aqui estou

Há mar e mar, há ir, respeitar e aproveitar.

São servidos?

11.9.19

Metropolitano - Lisboa

O metro pára e nele entra um jovem com um livro debaixo do braço. Olho por olhar para o grosso livro. A contracapa está virada para mim. Hum! Parece-me conhecer aqueles tons de cor, os sapatos de mulher e pouco mais via.

Dirijo-me ao jovem e pergunto-lhe se o livro que estava a ler não seria 'O Caçador' de Kepler.

O rapaz anuiu e ali fluiu-se a conversa sobre o teor do livro. Sentada, uma moça seguia as nossas considerações sobre o enredo do livro que tanto ele como eu, ainda não tínhamos saído dos primeiros capítulos. De repente disse que também já o tinha lido. E naquele momento, num metro de Lisboa, três pessoas sem se conhecerem de nenhum lado, falavam entusiasmados sobre as peripécias que uma Sofia tinha tido num encontro sexual com um ministro dos Negócios Estrangeiros...

Comecei a ler o livro em junho, intervalei e estou a tentar acabar neste período de tempo, enquanto a garotada voltou à água azul, mas o vento, embora mais suave, não convida a um mergulho.

- Não existem respostas simples, Valeria

- Percebo, mas sinto necessidade de dar um passo atrás - diz ela. - Porque tenho uma vida que funciona, os miúdos, o horto... E não gostaria de te parecer banal, mas sou adulta e em boa verdade as coisas estão muito bem assim como estão, mesmo sem um amor empolgante.

(...)

Desculpa Joona - continua Valeria, com um suspiro trémulo - Eu tinha acreditado, mas na realidade as coisas entre nós nunca iriam funcionar.

Fim de citação

No meio de tiros, mortes, de uma velha que indiferente a tudo isso tricotava, esta parte chamou-me a atenção. Quantos desejos, quantos amores são deixados para plano secundário quando o que conta é o conforto e a estabilidade que se tem, mesmo sem o tal amor empolgante que lhe encheria a alma, na existência fugaz que temos nesta vida.

10.9.19

Ó Mortais...

Ó mortais
Porque abandonais
Este azul de águas mansas
Que cintilam em mil reflexos?

Estou só, sem ninguém
A molhar seu corpo
Sem gritos de crianças
Sem o namoro dos adultos

À minha volta nada tenho,
Senão a presença
de peludas pernas
E não lisas, macias
De corpos de mulheres.

Estou só e não sei a razão...

Psiuu água que choras,
está frio cum catano!
Se não sentes este vento,
é porque estás saudoso
Dos dias que te alegraram,
Que no teu manto chapinharam.
E das noites festivas.

É assim a vida.
Tanto nos traz alegrias
Como de repente tudo se acaba.

E, como o vento não pára
Ficarás mais só.

Amanhã é outro dia!

30.8.19

Filho és, pai serás…

Os jovens de hoje gostam do luxo.
São mal comportados,
desprezam a autoridade.
Não têm respeito pelos mais velhos
e passam o tempo a falar em vez de trabalhar.
Não se levantam quando um adulto chega.
Contradizem os pais,
apresentam-se em sociedade com enfeitos estranhos.
Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes,
cruzam as pernas
e tiranizam os seus mestres.


Isto já dizia o filósofo Sócrates, há mais de 2000 anos (470-399 A.C.)

Quando somos filhos, temos sempre uma guerra de gerações com os nossos progenitores. Já no passado assim era e assim será no futuro. Quando apareceram em casa os The Beatles, The Rolling Stones e outros conjuntos da época, era uma ‘pega’ tramada pois aquilo era barulho demais para os ouvidos do meu pai, habituado a outro estilo de música. A minha mãe mais comedida, não entrava nessa luta pois isto é mais luta de ‘galos’ cada um procurando ocupar um espaço que pertence a outro. Assim é na vida selvagem, assim é na vida humana.

Mas o tempo, esse conselheiro silencioso, faz a sua parte e ao barulho do rock pesado, por exemplo dos Metallica que os meus filhos punham a tocar, aquilo já era barulho a mais para a minha ‘camioneta’ e, tal como o meu pai, não queria aquele barulho que até as paredes estremecia.

Os filhos fazem o seu papel, nós pais o nosso e, mais tarde, vemos os nossos filhos já pais, a percorrerem o nosso caminho.

Ei, meu Pai
Eu era 'inda menino e você me chamou
Mostrou-me os caminhos e me ensinou
Aquele que julgava ser melhor, meu Pai
E eu segui.

Ei, meu Pai
Você só não falou das coisas tristes, Pai
Você não me falou das amarguras, não
Por todas que eu teria que passar, meu Pai

(...)

Ah, meu Pai
Perdoa-me por eu estar falando assim
Às vezes eu esqueço e, penso só em mim
E eu sei nossos caminhos são iguais...


in ‘Ei meu Pai’ – Demétrius

Mimem os vossos pais enquanto eles cá estão.

foto: os meus pais ‘coloridos’ por mim de uma foto a preto e branco

19.8.19

As fake news e a estupidez

Um indivíduo estúpido é aquele que sem querer saber se é verdade ou mentira, partilha tudo o que lhe aparece, quando o objetivo é propalar notícias que não sabe se realmente aconteceu, com um objetivo político evidente.

Se a intenção é deitar 'abaixo' um governo seja ele da direita ou de esquerda, pegam numa foto e colocam-na com sorrisos de gáudio pois confirma-se que o governo em vez de nos governar só nos desgoverna, que são todos uns malandros, que colocam militares a fazerem de motoristas de matérias perigosas e hossanas, não é que eles se 'espetaram' e só não veio a 'terreiro' porque convinha esconder isso da opinião pública?!

... e partilham e voltam a partilhar, insultam os governantes e muitos são aqueles, que nem a sua casa sabem governar.

Esta foto foi difundida milhares de vezes, onde se dizia que tinha havido um acidente envolvendo camiões pesados que eram conduzidos por agentes da Guarda Nacional Republicana (GNR) durante a greve dos motoristas. Partilhado por milhares de pessoas estúpidas, naturalmente afetos à direita, com o intuito malévolo de levar mais uns milhares a insultar, a maldizer o governo que temos.

Pois bem. Para essa gente estúpida aqui estão as duas fotos, a que partilharam e a do acidente que aconteceu em 2017 no nó do Carregado. Deixem de ser estúpidos e pesquisem antes de colocar seja o que for.

daqui:

https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/ocorreu-um-acidente-com-camioes-pesados-conduzidos-por-agentes-da-gnr-durante-a-greve-dos-motoristas

3.4.19

O Ardina

Pela manhã ou no final da tarde, o ardina na sua correria, dobrava o jornal e mandava para as janelas mais altas dos seus fieis cliente, ou de um ou outro que o solicitasse e não falhava a pontaria.

Os ardinas surgiram em Portugal em 1864, aquando do nascimento do “Diário de Notícias”, pela mão do jornalista e escritor Eduardo Coelho.

Em pleno jardim de São Pedro de Alcântara, está um monumento dedicado a Eduardo Coelho, por baixo dele, um ardina apregoa o famoso jornal.

Quem é esse ardina? Quem foi que serviu de modelo para perpetuar essa figura típica da Lisboa antiga?

Tive o prazer de saber quem foi esse pequeno vendedor de jornais, seu nome: João Maria da Costa Mortágua.

Considerado o melhor ardina do Diário de Notícias, calcorreava Lisboa de lés a lés. Tinha 10 anos quando começou a vender jornais. Nascido em 1889, vencido pela vida e falta de saúde, morre a 13 de abril de 1943, com 54 anos, no Hospital S. José.

"A chuva persistente e o vento frio que tanto o acompanharam na labuta humilde de vendedor de jornais, não o abandonaram hoje durante o desfile silencioso pelas ruas tristes e escorregadias da cidade que anos e anos, de manhã à noite, ele animou com o seu pregão vibrante"

Assim 'rezava' uma crónica no jornal "Diário Popular" (onde Mortágua também trabalhou). O "Século" e naturalmente o "Diário de Notícias", fizeram questão de dar a conhecer aos seus leitores a morte deste ardina.

Deixou descendentes que, tal como ele, eram vendedores de jornais.

Hoje o ardina tem quiosque, já não se ouve o seu pregão:

"Olha o Século, olha o Diário de Noticias .
Olha a Capital, Republica ó Popular.
Diário de Lisboa, olha o Popular, trás o desastre."

Quando passarem pelo jardim de S. Pedro de Alcântara, olhem para aquela figura ladina que, com o seu barrete na cabeça, faz parte da história de todos nós.

fontes: "Diário de Notícias", "O Século", "Diário Popular", "Diário da Manhã", Monica Lisboa (bisneta do ardina), e daqui:

https://aviagemdosargonautas.net/2014/02/18/olha-o-popular-olha-a-capital-olha-o-jornal-de-noticias-por-clara-castilho/

http://cvalente.blogspot.com/2007/08/preges-de-lisboa-antiga.html

fado dedicado ao ardina, com fotos minhas de João Mortágua e recortes dos jornais da época:


29.3.19

Retalhos da minha memória...

Deambulo pela cidade de Lisboa. Os meus passos, já que estavam perto, dirigem-se para o Jardim do Príncipe Real no Bairro Alto. Ali estava um local que muito me dizia. Foi na Rua Ruben A. Leitão que, depois de casado, fui morar em 1976.

Como estaria esse edifício, quase 43 anos depois? Desço a Rua do Jasmim, onde 'morou' a CGTP. Eis a rua Ruben A. Leitão. O prédio ainda lá está, 9 o nº da porta. Noto que há obras no interior, mas a fachada do prédio é a mesma. Ao lado, já não. Estão descaraterizadas relativamente ao tempo em que lá morei.

A porta está aberta, vejo os lances de escada que me levava ao piso superior e se eu e a minha mulher inicialmente subíamos os dois, mais tarde uma alcofa subia connosco, o da nossa primeira filha que ainda ali viveu uns tempos.

Foi nessa rua que, em 1979, surge o jornal "O Correio da Manhã". Ali os vi a preparar os jornais nas rotativas, sem grandes condições para os seus escribas, mas foi um marco na existência desse jornal.

Lisboa ao entardecer.

Lisboa

Alguém diz com lentidão:
“Lisboa, sabes…”
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus e degraus até ao rio.
Eu sei. E tu, sabias?

Eugénio de Andrade, in Até Amanhã, 1956

foto tirada do Jardim de S. Pedro de Alcântara.

28.3.19

Vamos ao Teatro...

Peça 'Zoom' no Teatro da Trindade.

Sinopse:

"Zoom é uma peça sobre a relação de Sarah (Sandra Faleiro), uma fotojornalista recém-chegada da Guerra do Iraque, depois de ter sido ferida pela explosão de uma bomba, e do seu namorado James (João Reis), um repórter de guerra. James tenta que mudem o rumo das suas vidas, para que possam finalmente sonhar com uma “vida normal”, mas as cicatrizes emocionais com que ambos se debatem revelam um casal numa encruzilhada.

Em casa, recebem a visita do amigo Richard (Virgílio Castelo), editor de fotografia, que lhes apresenta a sua nova namorada, Mandy (Sara Matos), consideravelmente mais nova que ele, e que com a sua aparente ingenuidade e franqueza desconcertante, coloca questões sobre a ética e a moral que produzem em Sarah um efeito avassalador.... "

Com estes bons profissionais, a peça teve momentos que tirou dos espetadores boas gargalhadas e, sendo o tema baseado em momentos de guerra, em que há duas situações que se opõem mas que no fundo se complementam, as vítimas e quem fotografa esses horrores da guerra (os repórteres da guerra são muitas vezes vítimas desse levar a fotografia ou a escrita da violência a todos nós. Muitos prémios Puliterz tem quase sempre a guerra como tema principal para atribuição desse prémio), para quem gostar do tema é de ver.

Infelizmente a sala tem dois inconvenientes: qualquer pessoa um pouco mais alta que o Nelson Ned, tira a visibilidade da boca de cena a quem atrás está (e ontem a plateia estava muito bem composta), e o som. Quando há um falar mais baixo (principalmente nas atrizes) pouco se percebe e todos sabemos que quanto mais para 'sénior' se vai, mais duro é o ouvido.

A sala é um espetáculo, e estas são as únicas fotos que me foram permitidas tirar.

Se quiseres saber mais, vai ao Teatro.

22.3.19

Não ficará pedra sobre pedra…

E assim desapareceu o imóvel em ruínas ao cimo da Calçada de Carriche.

Que me lembre sempre o conheci degradado e a inclemência do tempo e do Homem, deram-lhe a ‘machadada’ final.

Fica esta minha fotografia a relembrar que, outrora, ali havia uma habitação onde, porventura, se ouviram risos de crianças, e o bulício próprio de um lar.

19.3.19

Hoje é dia do Pai

O meu já 'partiu' há muito tempo. Foi o pai possível numa 'ninhada' de seis filhos. Muitas vezes só lhes damos importância quando não os temos junto a nós. O pai é sempre o 'mau' da fita da vida.

Para nos criar, tivemos que 'nos' criar muito cedo ao trabalharmos ainda crianças. Não tivemos tempo em o sermos, mas aproveitamos bem o pouco tempo que o fomos.

Hoje pai e avô, fica-se sempre com a sensação que o que se faz, nunca é verdadeiramente reconhecido. Talvez o sejamos ou talvez só na hora da partida é que esse reconhecimento seja mais sentido, como acontece com a quase totalidade de todos nós... e dizemos, afinal o nosso pai era um bom pai, mesmo que nunca o tivesse sido.

O meu pai na Rua do Lobito, Luanda, num momento de lazer, na varanda da nossa casa.

Parabéns Pai pelo teu dia!

15.1.19

Sabes?

Quero uma brisa macia espalhando o perfume da natureza:
Quero um pensamento de paz na cabeça do mundo
Quero da vida apenas a minha vida:
Quero cultivar o amor e a paz dentro de mim
Quero acima de tudo:
Ser como sou


(adaptado)