A internet é uma boa forma de passar o tempo mas não é a única forma de passar a vida

12.9.19

Há mar e mar...

Caminhando junto ao mar, ouvem-se gritos aflitivos de uma mulher. Sentada na areia, contorcia-se com dores. Outra mulher segurava-a enquanto iam chamar o nadador salvador a fim de prestar a assistência devida.

Uma multidão logo se juntou cada um formulando a sua opinião tipo sapateiro na Praça de Veneza. Naquela altura qualquer 'sapateiro' dava palpites mas, a mulher contorcendo-se com dores, nem os ouvia. A dor era num pé.

Chegaram os rapazes e logo ouviram insultos, que tinham demorado muito tempo e que não deviam perceber nada daquilo. Com calma e sem ligarem às provocações, verificaram que a senhora tinha sido picada por um peixe-aranha. Os nadadores salvadores têm um kit para estas situações.

Sentaram a senhora numa cadeira e trataram-na. Os 'sapateiros' envolventes baixaram a cerviz e retiraram-se assobiando para o lado, como o que tinham dito aos rapazes tinha sido por outros e não por eles.

Mar encapelado. Ondas de mais de metro e meio. Uma senhora com um peso considerável, olhava para aquelas ondas como as desafiando. Tanto olhou, que nem reparou numa onda enorme que vinha a praia beijar.

Vira-se e esta apanha-a em cheio pelas costas. A 'bola' rebola e, devido ao peso, não consegue levantar-se... e o mar puxa-a para o seu interior. Sorte dela que, a pouca distância, duas jovens apercebendo-se da situação, a seguraram a tempo (mas eu já lá ia em socorro).

Bola de Berlim grita o vendedor. E hoje comi a primeira bola de Berlim desde que aqui estou

Há mar e mar, há ir, respeitar e aproveitar.

São servidos?

11.9.19

Metropolitano - Lisboa

O metro pára e nele entra um jovem com um livro debaixo do braço. Olho por olhar para o grosso livro. A contracapa está virada para mim. Hum! Parece-me conhecer aqueles tons de cor, os sapatos de mulher e pouco mais via.

Dirijo-me ao jovem e pergunto-lhe se o livro que estava a ler não seria 'O Caçador' de Kepler.

O rapaz anuiu e ali fluiu-se a conversa sobre o teor do livro. Sentada, uma moça seguia as nossas considerações sobre o enredo do livro que tanto ele como eu, ainda não tínhamos saído dos primeiros capítulos. De repente disse que também já o tinha lido. E naquele momento, num metro de Lisboa, três pessoas sem se conhecerem de nenhum lado, falavam entusiasmados sobre as peripécias que uma Sofia tinha tido num encontro sexual com um ministro dos Negócios Estrangeiros...

Comecei a ler o livro em junho, intervalei e estou a tentar acabar neste período de tempo, enquanto a garotada voltou à água azul, mas o vento, embora mais suave, não convida a um mergulho.

- Não existem respostas simples, Valeria

- Percebo, mas sinto necessidade de dar um passo atrás - diz ela. - Porque tenho uma vida que funciona, os miúdos, o horto... E não gostaria de te parecer banal, mas sou adulta e em boa verdade as coisas estão muito bem assim como estão, mesmo sem um amor empolgante.

(...)

Desculpa Joona - continua Valeria, com um suspiro trémulo - Eu tinha acreditado, mas na realidade as coisas entre nós nunca iriam funcionar.

Fim de citação

No meio de tiros, mortes, de uma velha que indiferente a tudo isso tricotava, esta parte chamou-me a atenção. Quantos desejos, quantos amores são deixados para plano secundário quando o que conta é o conforto e a estabilidade que se tem, mesmo sem o tal amor empolgante que lhe encheria a alma, na existência fugaz que temos nesta vida.

10.9.19

Ó Mortais...

Ó mortais
Porque abandonais
Este azul de águas mansas
Que cintilam em mil reflexos?

Estou só, sem ninguém
A molhar seu corpo
Sem gritos de crianças
Sem o namoro dos adultos

À minha volta nada tenho,
Senão a presença
de peludas pernas
E não lisas, macias
De corpos de mulheres.

Estou só e não sei a razão...

Psiuu água que choras,
está frio cum catano!
Se não sentes este vento,
é porque estás saudoso
Dos dias que te alegraram,
Que no teu manto chapinharam.
E das noites festivas.

É assim a vida.
Tanto nos traz alegrias
Como de repente tudo se acaba.

E, como o vento não pára
Ficarás mais só.

Amanhã é outro dia!