Fitei-o. Com a mão na cara, cofiando a barba de alguns dias, o meu amigo bebia o café com o olhar perdido no horizonte. Naquele café, onde se mirava a encosta sulcada de casario, ouvi-o durante anos.
Casara relativamente cedo. Casara por amor. Adorava a mulher acima de tudo. Os dois lutaram por uma vida que lhes fizesse esquecer as amarguras do passado. Vieram os filhos e a vida foi, a pouco e pouco, mudando.
Chegado a casa, depois de um dia de canseira, ouvia as lamúrias da mulher, sobre o trabalho, sobre os filhos, sobre a vida. E ele queria era um momento a sós com ela. Queria poder amá-la até exaustão, no carro, na cama, na banheira, fosse em que lugar fosse, sem tabus, sem regras, sem dogmas.
Deitavam-se, e a conversa continuava. Ele bem procurava excitá-la mas nada! Cansada, ela virava-lhe as costas e ele fazia amor com o vazio.
De vez em quando fazia movimentos, sabendo que ela ainda estava semi-acordada, para que ela se voltasse e fizesse amor com ele, mas o corpo não se voltava, o corpo não bulia e ele fazia amor com o movimento.
No banheiro, enquanto a água quente lhe escorria pelo corpo, excitado, fazia amor com a mão.
Quando, após semanas, ela se lembrava que havia outras coisas para além de tachos e panelas, de luzes apagadas, ele fazia amor com o escuro.
No carro quando ia com ela e a olhava, desejoso de fazer amor, fazia amor com o pensamento.
Isto durante anos. Muitas vezes o meu amigo me confessou que, quando ia de carro, a vontade que tinha era guinar o volante, acabar com tudo, acabar com a vida.
Pensava essencialmente nos filhos e na mulher que nunca deixara de gostar, mas a paixão esmorecera!
Abria-me os seus sentimentos, calava-se e eu respeitava os seus silêncios. Ele não queria conselhos, queria alguém que o ouvisse!...
… Um dia, sozinho, vai até ao penedo onde me dizia que costumava ir, ouvir as ondas, ouvir o bramido, ouvir o rugido do mar. Ali ficava entregue aos seus pensamentos e pensar se a vida assim valia a pena ser vivida.
Olhou o azul profundo. Aqui e ali, ondas iam e vinham, gotículas de espuma batiam-lhe mansamente no rosto, num gesto de carinho, numa entrega total.
Despiu-se em pleno dia e, de braços abertos, atirou-se àquelas águas, pela última vez fizera amor… com a Morte!
Adeus amigo!...
Casara relativamente cedo. Casara por amor. Adorava a mulher acima de tudo. Os dois lutaram por uma vida que lhes fizesse esquecer as amarguras do passado. Vieram os filhos e a vida foi, a pouco e pouco, mudando.
Chegado a casa, depois de um dia de canseira, ouvia as lamúrias da mulher, sobre o trabalho, sobre os filhos, sobre a vida. E ele queria era um momento a sós com ela. Queria poder amá-la até exaustão, no carro, na cama, na banheira, fosse em que lugar fosse, sem tabus, sem regras, sem dogmas.
Deitavam-se, e a conversa continuava. Ele bem procurava excitá-la mas nada! Cansada, ela virava-lhe as costas e ele fazia amor com o vazio.
De vez em quando fazia movimentos, sabendo que ela ainda estava semi-acordada, para que ela se voltasse e fizesse amor com ele, mas o corpo não se voltava, o corpo não bulia e ele fazia amor com o movimento.
No banheiro, enquanto a água quente lhe escorria pelo corpo, excitado, fazia amor com a mão.
Quando, após semanas, ela se lembrava que havia outras coisas para além de tachos e panelas, de luzes apagadas, ele fazia amor com o escuro.
No carro quando ia com ela e a olhava, desejoso de fazer amor, fazia amor com o pensamento.
Isto durante anos. Muitas vezes o meu amigo me confessou que, quando ia de carro, a vontade que tinha era guinar o volante, acabar com tudo, acabar com a vida.
Pensava essencialmente nos filhos e na mulher que nunca deixara de gostar, mas a paixão esmorecera!
Abria-me os seus sentimentos, calava-se e eu respeitava os seus silêncios. Ele não queria conselhos, queria alguém que o ouvisse!...
… Um dia, sozinho, vai até ao penedo onde me dizia que costumava ir, ouvir as ondas, ouvir o bramido, ouvir o rugido do mar. Ali ficava entregue aos seus pensamentos e pensar se a vida assim valia a pena ser vivida.
Olhou o azul profundo. Aqui e ali, ondas iam e vinham, gotículas de espuma batiam-lhe mansamente no rosto, num gesto de carinho, numa entrega total.
Despiu-se em pleno dia e, de braços abertos, atirou-se àquelas águas, pela última vez fizera amor… com a Morte!
Adeus amigo!...
2 comentários:
Pois é, Amigo. Por vezes exigimos mais do que nos é permitido ter e passamos toda uma vida inconformados e numa ângustia constante.
Mas tem de haver melhor alternativa ... morrer a fazer AMOR parece-me aceitável, já faze-lo com a morte acho péssima opção.
As obcessões doentias (haverá obcessões que não sejam? eheheh) nunca dão bom resultado.
Um beijo grande
Pois é amigo Marius!!Com efeito estamos a ficar velhos, sinal dos tempos!Efectivamente é dificil reconhecer amigos desses tempos,quando não convivemos assiduamente com eles. Li a tua mensagem, e vejo que está tudo esclarecido sobre o assunto.Alguma informação adicional, estou sempre disponivél!! Para mim és um "Comando"
Um grande abraço.
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