Estava frio. Os meus quatro filhos ainda pequenos, dormiam em beliches. As raparigas de um lado, os gémeos do outro.
- Pai, está frio - diziam eles - enquanto puxavam as mantas para melhor se aquecerem.
Vou-vos contar uma história - disse-lhes eu.
As quatro cabecinhas voltaram-se na minha direção. O pai ia contar uma história. Não era todos os dias que isso acontecia.
Olhei-os e comecei a história. Era sobre a princesa da Prússia.
"A princesa da Prússia era uma menina muito mimada. Não fazia nada. Ficava zangada quando não lhe faziam as vontades e estava sempre enfastiada. Passava o dia de um lado para o outro dentro do palácio. Um dia resolveu sair do palácio. Tentaram demovê-la pois a neve caía e o frio apertava, mas nada conseguiram. A menina decidiu e tinha-se que se lhe fazer a vontade.
Apressaram-se em lhe arranjar uma carruagem com todos os confortos, aperaltaram-se os guardas e nos seus lindos trajes de cossacos saíram para uma volta até à floresta.
O tempo piorava, um vento gélido entrava pelas frinchas da carruagem e a princesa começou a sentir frio. Então ordenou aos guardas que lhe fizessem uma fogueira para se aquecer. Que remédio tiveram eles senão cumprir o desejo da sua augusta princesa.
Com os machados começaram a cortar os ramos que iam amontoando para fazerem a fogueira. Pouco a pouco foram retirando os casacos, as túnicas, ficando só em camisa. A princesa olhava espantada. Ela cheia de roupa e com frio, eles de camisa.
Saiu da carruagem e perguntou a razão porque estavam todos de camisa. Um deles estendeu-lhe o machado e disse-lhe a medo para ir cortando uns ramos. A princesa assim fez. Passado pouco tempo começou a sentir calor e soube a razão."
... e por aqui me fiquei.
Os quatro olharam-me como à espera de mais e então disse-lhes:
- Vocês têm frio porque não estão a fazer nada, se estivessem a cortar toros de madeira iriam sentir calor.
Tenho a impressão que a partir desse dia nunca mais quiseram ouvir-me contar mais histórias. Até hoje perdura essa da princesa da Prússia.
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