Não se sabe como surgiu a expressão «ir ao Baeta». Pelo que sei, é tipicamente portuguesa e mais usada em Lisboa que noutra zona do país.
Então hoje fui ao "Baeta". Não que tivesse uma guedelha que me tapasse os olhos, pois hoje devido à minha "abundância" capilar, tal seria impossível, mas sim porque a primavera está em força e os cabelos sobre as orelhas incomodam e por mais que se penteie, vem uma rabanada de vento e o mesmo fica tipo guarda-lamas.
O meu antigo barbeiro, (Batista mesmo de nome), depois de uma longa vida dedicada ao corte, a idade (86 anos) não lhe permitiu continuar e reformou-se.
No seguimento do anterior, tendo predileção pelo barbeiro à antiga, encontrei um mesmo à medida. Um local onde se fala de tudo e de nada (o silêncio de vez em quando impera), onde são todos conhecidos na vizinhança e as notícias são como Eça de Queirós, meu conterrâneo, as descrevia. Os jornais sempre presentes informam "Morreram milhares na China devido a cheias». É muito longe não se faz alarido. Entra alguém a dizer que a Tia Mariquinhas torceu o pé e sai tudo da barbearia em alvoroço para saber o estado do pé da tiazinha.
Ali, ouvem-se histórias que nos colocam a par desta e daquela pessoa, do piscar de olho à vizinha, ou que o Benfica ainda ganha o penta (que os santos os oiçam)
O mês passado disse ao barbeiro que iria levar a máquina fotográfica para tirar uma foto às cadeiras onde sentámos.
Cadeiras à antiga, pena não estarem pintadas com as cores de origem, aquele vermelho/acastanhado ou cinzento já desgastado pelo tempo, pois aquele verde não tem nada a ver com as que nos acompanham desde os tempos imemoriais, quando em pequeno, na minha terra Póvoa de Varzim, o "baeta" lá no Mercado Municipal, colocava uma tábua para eu puto me sentar e cortar a melena.
Outros tempos mas a tradição ainda é o que é em alguns lugares, os meus filhos também chegaram a sentar em tábuas assim.
Agora é tudo nas grandes superfícies, mas não há nada como estas cadeiras numa barbearia lá do bairro.
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