O metro pára e nele entra um jovem com um livro debaixo do braço. Olho por olhar para o grosso livro. A contracapa está virada para mim. Hum! Parece-me conhecer aqueles tons de cor, os sapatos de mulher e pouco mais via.
Dirijo-me ao jovem e pergunto-lhe se o livro que estava a ler não seria 'O Caçador' de Kepler.
O rapaz anuiu e ali fluiu-se a conversa sobre o teor do livro. Sentada, uma moça seguia as nossas considerações sobre o enredo do livro que tanto ele como eu, ainda não tínhamos saído dos primeiros capítulos. De repente disse que também já o tinha lido. E naquele momento, num metro de Lisboa, três pessoas sem se conhecerem de nenhum lado, falavam entusiasmados sobre as peripécias que uma Sofia tinha tido num encontro sexual com um ministro dos Negócios Estrangeiros...
Comecei a ler o livro em junho, intervalei e estou a tentar acabar neste período de tempo, enquanto a garotada voltou à água azul, mas o vento, embora mais suave, não convida a um mergulho.
- Não existem respostas simples, Valeria
- Percebo, mas sinto necessidade de dar um passo atrás - diz ela. - Porque tenho uma vida que funciona, os miúdos, o horto... E não gostaria de te parecer banal, mas sou adulta e em boa verdade as coisas estão muito bem assim como estão, mesmo sem um amor empolgante.
(...)
Desculpa Joona - continua Valeria, com um suspiro trémulo - Eu tinha acreditado, mas na realidade as coisas entre nós nunca iriam funcionar.
Fim de citação
No meio de tiros, mortes, de uma velha que indiferente a tudo isso tricotava, esta parte chamou-me a atenção. Quantos desejos, quantos amores são deixados para plano secundário quando o que conta é o conforto e a estabilidade que se tem, mesmo sem o tal amor empolgante que lhe encheria a alma, na existência fugaz que temos nesta vida.
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