Deixa-me dar-te não um brinquedo mas sim uma lembrança.
Deixa-me dar-te algo que vive dentro de nós, o ser-se criança!...
Deixa-me desejar-te um mundo melhor, as águas claras de um atol
Deixa-me desejar-te um céu azul onde brilhe sempre... o Sol.
Levítico 15:19-24 – Quando uma mulher menstruar, estará num estado de impureza durante sete dias. Quem quer que a toque ficará imundo até ao anoitecer. Tudo sobre o qual ela se deitar ou sentar durante o período de impureza será imundo. Todo aquele que tocar a cama dela deve lavar as próprias roupas, banhar-se em água e estará imundo até o anoitecer. Mas se ela estiver no leito ou num assento, quando os tocar eles estarão imundos até ao anoitecer. [Este trecho parece truncado, tanto no original hebraico, quanto no texto grego.] Se um homem ousar deitar-se com ela, ele contrairá a impureza dela e estará imundo durante sete dias; toda cama em que ele se deitar nesse período também se tornará imunda.
Algumas dessas prescrições são repetidas em Levítico 12:2-5 e 18:19.
Levítico 20:18, contradiz os trechos citados ao determinar pena ainda mais severa para o coito durante a menstruação:
Se o homem tem relações sexuais com uma mulher durante o período menstrual dela, ambos serão excluídos de seu povo, porque deixaram descoberta a fonte do sangue fluente dela.
Alguns rabinos interpretaram essa passagem como sanção da pena da morte, não apenas exílio. Em algumas escrituras judaicas, de facto, coito com mulher menstruada é dado como passível de pena capital...
As mulheres, desde a antiguidade, são tratadas como seres "inferiores", daí não se estranhar que, nos tempos de hoje, ainda hajam religiões que as apedrejem até à morte por outros motivos.
O amor traz à tona os nossos sentimentos não resolvidos. Num dia sentimo-nos amados e, no dia seguinte, estamos, repentinamente com medo de confiar no amor. As memórias dolorosas de rejeições passadas começam a vir à superfície quando temos de confiar e aceitar o amor do nosso parceiro.
Sempre que nos amamos mais ou somos amados por outras pessoas, os sentimentos reprimidos tendem a vir à tona e, temporariamente, ensombrar a nossa consciência amorosa. Vêm à tona para serem cicatrizados e libertados. Podemos, repentinamente, ficar irritadiços, defensivos, críticos, ressentidos, exigentes, insensíveis e nervosos.
Sentimentos que não conseguíamos expressar no passado, de repente inundam a nossa consciência quando sentimos segurança para os sentir. O amor descongela os sentimentos reprimidos, e gradualmente esses sentimentos não resolvidos começam a vir à superfície durante um relacionamento.
É como se os seus sentimentos não resolvidos esperassem que se sentisse amado e então viesse à tona para serem cicatrizados. Todos nós andamos por aí com uma carga de sentimentos não resolvidos, feridas do nosso passado que repousam, adormecidas dentro de nós, até chegar o momento em que nos sentimos amados. Então quando nos sentimos seguros para sermos nós mesmos, antigas mágoas vêm à tona.
Se soubermos lidar com estes sentimentos com sucesso, podemo-nos sentir muito melhor e reavivar o nosso potencial amoroso. Se, no entanto, discutimos e culpamos o nosso parceiro em vez de nos curarmos do nosso passado, restará apenas o aborrecimento e a tendência será reprimir, novamente, os sentimentos.
In «Os Homens são de Marte, as Mulheres de Vénus» de John Gray
Falar de Mário Sá-Carneiro é uma forma de dar a conhecer não só um notável poeta, como a inadaptação a um mundo que não é o dele e, a constante busca do próprio eu, aquilo que nós afinal, em várias fases da nossa vida procuramos interiorizar, numa procura constante do que somos, quem somos e o que fazemos aqui.
Falar do meu homónimo é, afinal, falar de nós, dos nossos fantasmas, dos nossos medos.
Falemos então.
"... O Sá Carneiro não teve biografia: teve só génio. O que disse foi o que viveu.
Fernando Pessoa
Mário de Sá Carneiro (1890 - 1916)
Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa no dia 19 de maio de 1890 (faz hoje precisamente 115 anos). Os primeiros anos de sua vida são marcados pela dor causada pela morte da mãe, em 1892, quando ele tinha apenas dois anos.
Em 1911 matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra e prossegue os seus estudos em Paris. Corresponde com Fernando Pessoa onde já reflecte os seus problemas emocionais e as ideias de suicídio.
Em 1914 publica as obras “Dispersão” e “A confissão de Lúcio”, intensificando a sua correspondência com Pessoa a quem envia seus poemas e projectos, continuando a mostrar sinais de pessimismo e desespero.
Em 1915 participa do lançamento da revista “Orpheu”, provocando polémicas no meio literário quando no segundo número publica, juntamente com o poema “Ode triunfal” de Álvaro de Campos (heterónimo de Pessoa), o poema futurista “Manucure”.
Regressa nesse ano a Paris onde tem grandes crises de depressão, agravadas pelas suas dificuldades financeiras.
Em 1916 envia uma carta a Fernando Pessoa, anunciando a sua intenção de suicídio que ocorre no dia 26 de Abril, num quarto do Hotel Nice em Paris.
Foi a impossibilidade de equilíbrio que o levou ao suicídio. Como homem, não se realizou, nem na vida nem na morte. No fracasso do homem, o artista deitou raízes e floresceu em Beleza. O poeta amou e cantou a sua Alma. - "Um pouco mais de sol - e fora brasa, / Um pouco mais de azul - e fora além." -.
QUASE
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
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............................................................
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Sento-me. Enquanto vou dando voltas à colher e beber o meu café, olho para a figura que está à minha frente. Um jovem quase velho, escreve com sofreguidão mais uma carta. Não me vê. Sou um fantasma, um fantasma de mim, um fantasma dele, um fantasma de todos. Estamos num mundo que não é o nosso não é Mário? Deixa-me ver a quem escreves, ah!... é a Ponce de Leão teu amigo dos tempos de escola. Permites-me que a leia? Obrigado!
Lisboa - Setembro de 1913
Dia 26
Meu querido amigo,
Não te zangues. isto é sem cerimónia. Perdoa...
Bem sei que tens concurso – e casamento (os bustos não esquecem: 1 aproxima-se).
Mas ouve:
Se amanhã à noite sábado quiseres e puderes gostava que viesses a minha casa às 8 1/2 9 horas. Gramarias (sozinho com o F. Pessoa) a célebre «Confissão de Lúcio» em cuja primeira página o teu nome se imprime.
Era-me muito agradável que viesses pois é lamentável que tendo eu escrito esse conto para ti, não sejas tu o primeiro a ouvi-lo. Mas nota bem: eu compreendo optimamente os teus afazeres e portanto não me zango nada se não puderes vir [no texto: «vires»]. Mas faz um esforço, sim? Sacrifica-me duas horas. Agradecer-tas-ei como uma vida inteira!...
Adeus, perdoa-me!
Um grande abraço do
Sá-Carneiro
P. S. – Não venhas se não puderes de todo. E não me zango!
Mário de Sá-Carneiro, A Confissão de Lúcio:
"- Ah! meu querido Lúcio - tornou ainda o poeta -, como eu sinto a vitória de uma mulher admirável, estiraçada sobre um leito de rendas, olhando a sua carne toda nua... esplêndida... loura de álcool! A carne feminina - que apoteose! Se eu fosse mulher, nunca me deixaria possuir pela carne dos homens - tristonha, seca, amarela: sem brilho e sem luz... Sim! num entusiasmo espasmódico, sou todo admiração, todo ternura, pelas grandes debochadas que só emaranham os corpos de mármore com outros iguais aos seus - femininos também; arruivados, sumptuosos... E lembra-me então um desejo perdido de ser mulher - ao menos, para isto: para que, num encantamento, pudesse olhar as minhas pernas nuas, muito brancas, a escoarem-se, frias, sob um lençol de linho...
(...)
...uma noite, sem me dizer coisa alguma, ela pegou nos meus dedos e com eles acariciou as pontas dos seios - a acerá-las, para que enfolassem agrestemente o tecido ruivo do quimono de seda.
E cada noite era uma nova voluptuosidade silenciosa.
Assim, ora nos beijávamos os dentes, ora ela me estendias os pés descalços para que lhos roesse - me soltava os cabelos; me dava a trincar o seu sexo maquilhado, o seu ventre obsceno de tatuagens roxas...
E só depois de tantos requintes de brasa, de tantos êxtases perdidos - sem força para prolongarmos mais as nossas perversões - nos possuíamos realmente."
Mário sinto esse teu desejo de escapulires da vida. Que batalha travas dentro de ti. Essa ponte de tédio que te separa do outro está a desmoronar-se. Olhas e nada mais vez que um fim que te liberte das amarras do teu íntimo. Ser ele ou ser ela, ó que dor! Sentir a seda a escapulir pelo corpo ó que delírio! Mário porque não mais lutaste e deixaste o grifo alado tomar-te nos braços e desaparecer... para sempre?!... Para sempre não Mário pois agora, é que te compreendemos!...
... e a tua sombra Mário?!... seria o outro ou, simplesmente... tu!