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19.5.05

Mário de Sá-Carneiro - a Homenagem



 Falar de Mário Sá-Carneiro é uma forma de dar a conhecer não só um notável poeta, como a inadaptação a um mundo que não é o dele e, a constante busca do próprio eu, aquilo que nós afinal, em várias fases da nossa vida procuramos interiorizar, numa procura constante do que somos, quem somos e o que fazemos aqui.

Falar do meu homónimo é, afinal, falar de nós, dos nossos fantasmas, dos nossos medos.

Falemos então.



 "... O Sá Carneiro não teve biografia: teve só génio. O que disse foi o que viveu.

Fernando Pessoa

 Mário de Sá Carneiro (1890 - 1916)

 Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa no dia 19 de maio de 1890 (faz hoje precisamente 115 anos). Os primeiros anos de sua vida são marcados pela dor causada pela morte da mãe, em 1892, quando ele tinha apenas dois anos.

 Em 1911 matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra e prossegue os seus estudos em Paris. Corresponde com Fernando Pessoa onde já reflecte os seus problemas emocionais e as ideias de suicídio.

 Em 1914 publica as obras “Dispersão” e “A confissão de Lúcio”, intensificando a sua correspondência com Pessoa a quem envia seus poemas e projectos, continuando a mostrar sinais de pessimismo e desespero.

 Em 1915 participa do lançamento da revista “Orpheu”, provocando polémicas no meio literário quando no segundo número publica, juntamente com o poema “Ode triunfal” de Álvaro de Campos (heterónimo de Pessoa), o poema futurista “Manucure”.

 Regressa nesse ano a Paris onde tem grandes crises de depressão, agravadas pelas suas dificuldades financeiras.

 Em 1916 envia uma carta a Fernando Pessoa, anunciando a sua intenção de suicídio que ocorre no dia 26 de Abril, num quarto do Hotel Nice em Paris.

 Foi a impossibilidade de equilíbrio que o levou ao suicídio. Como homem, não se realizou, nem na vida nem na morte. No fracasso do homem, o artista deitou raízes e floresceu em Beleza. O poeta amou e cantou a sua Alma. - "Um pouco mais de sol - e fora brasa, / Um pouco mais de azul - e fora além." -.

QUASE

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
............................................................
............................................................

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Paris, 13-5-1913

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Mário, como vai? Gostei da música de fundo do seu blog. Será q vc pode me dizer como faço pra por no meu tbm. Meu nome é Letícia. e-mail: leticiavendrame@yahoo.com.br
Obrigada..beijo